quarta-feira, 6 de julho de 2016

ODE A ROSETA

















Ah, como eu queria
Que tua cidade fosse nossa,
Me reconhecer na rua dos teus pés.
Teu ir embora
Poderia não ser tanto
Tango argentino.
Não te vejo mais na minha gente
E nem falo mais língua de árvore,
Mas, algum asfalto
Com amnésia de poeira
Quase que me lembra.
A tarde ainda é minha
Assim como meu sol que ficou -
Não tenho amigos.
Meu afastar, ainda,
É você indo embora.
Teus dias de pluvi-menstruo
É saudosa maldição
Na esterilidade faminta
Dos bueiros da cópia
Da cidade do santo.
Tudo aqui tem um pouco de você,
Porém, as partes não se completam:
Sinto carência do tudo
Que é você longe;
Da sombra do porvir no fundo do meu olho
Que é você semi-esquecida,
Na incapacidade em trazer você à tona
Que sou eu tentando ver,
Na árvore raquítica de um canteiro de esquina,
Olhos tristes que são você longe;
Dos horizontes circunvizinhos
Que vagamente - no abandono
Daquele que procura
Em todos os olhares,
Signos,
Gestos e sons
Resquícios do amor ido -
Lembram você.
A constância do voltar,
No lugar da satisfação,
Faz viva e forte
Uma faca no peito.
O sangue faz-se forte e amargo
E toma, a cada dia,
O lugar das palavras
Sufocadas no engolir seco.
Na viagem, sinto pena
Dos pinheiros altos,
Encerrados na paisagem
Dos cerrados
- Outros órfãos de raiz.

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