sexta-feira, 28 de abril de 2017

KINGDOM

 

The boy pays
Your price to the devil:
White in
Black'n blues,
Cryin' a life
On your shoes;
Dressed in
The nigger mask
With paradise's bitches,
Lost in the south
Of your soul.
The boy pays
Your price to the devil, to
The white devil.

BALÉ
















No dia em que a vida
Não for só preto
E branco
E o céu não tiver tanta
Conta
Em abrir o ar,
Voar, voar:
Passo uma história
Ao teu fim,
Pois sei,
Custas acreditar,
Dançar, dançar,
Dançar:
Não mentes quando falas
Assim,
Traem-te os dentes,
Ridentes, ridentes...
De alma leve
E corpo ausente
Dá dor no peito da gente!

RENITÊNCIA



O ronco surdo do metrô
Irrompe a madrugada à luz do dia.
Pouco a pouco
A noite deixa as ruelas
Aos cuidados dos outros tempos -
Monóxida respiração,
Carbonização moderna
E a todo instante
Os digitais augustos,
Nas praças,
Esquecem instantes -
Cinco e cinquenta e
Um e...
Dois e...
Três...
- Distraidamente,
Um galo canta
Contorcendo os tempos
Que mudaram.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

CONDIÇÃO













Só volto a falar de flor
Quando, de novo,
Pra mim você sorrir
Aquele riso que sei de cor.

PALHAÇO NA CORDA BAMBA EM DIA DE CHUVA E SABÃO














Pode ser que amanhã
Alguém dê ouvidos ao palhaço,
Mas o que eu contar de mim
Vai ser você,
Ou pelo menos eu
Com falta de beijo
E um tremendo calo
Na memória.
E pode ser que amanhã
Eu morra
Sem um pelo menos,
Mas,
Com um demais
Que de tanto se encheu
E me fez ficar assim
Pulando de canto a outro
E querendo do seu fim
Só eu.

B.B.: SEXTO ANDAR















"E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os  reinos do mundo."
 Lucas, IV, 5

Insistindo teu amor                                                                             
No meu jeito
Tenho-te longe,
No meu peito,
Assim como,
Quer queira ou não,
Minha pele
É teu coração.

Um ódio eterno
Buscando eterno perdão:
Assim sangra minha mão
Sentindo sangue em tua mão:
Minha jaqueta bêbada
Em sereno-madrugada
Tem receio de altura
E de céu não sabe nada.

Se, talvez fosse poeta
E vestisse não máscara,
Mas coragem
Subiria o mais alto morro
E deixaria ao tempo
A aragem;

Vomitaria embriagado
Minha mentira na cidade
Até ruas serem desertos
E rabiscaria - louco tentando pintura -,
Como se fosse novidade
Os teus olhos no céu.

Mas só podendo ser humano,
Iludo verdades no papel
Feito pedra atirada em rio,
Mentindo ao inferno
Um céu de ponta-cabeça
E sonhando cirandas passeando tuas entranhas em tórridos sufocos e emergindo, em cada poro, misturando-se ao léu: sendo brilho de luz, gerando pedras, madeiras, colibris e voando verdades, com coragem de mentira. 

"TRISTETO"



Uma canção amarela
Faz fundo à nossa estrada:

Histórias que não mais
Precisam ser contadas.
Que surpresa esconde
O fingir que não se vê?

Olhos baixos, ressecados,
Na sazão - sou eu e é você! -
O desleixo, todo recado,

Sazona em despaixão.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

FICAR EM CASA É NADA




Ficar em casa é nada
Assim como é nada
O mundo depois de ganho.
Ah, o bom mesmo é estrada -
Ter as coisas tão rápidas
Que não têm outra chance
Além de serem tuas:
Ganhar o mundo
Perdendo tudo
É que tudo vai crescendo,
Sendo mudo,
Mudo tudo.

CEIFA



Faca ingrata
Presa em minha mão
Pacata.

Flores só se dão
A quem as vale.

E vale uma dor
Quem força o amor
Da solitude de gardênia
Abortada do mar
Do jardim?

              Toda a infinitude da arte
              Dá cor a rosas
              E orquídeas
              E pétalas de cor

Mas e o nu
Do talo?

ARRANJO














Todas as flores
Estão no jardim
E, às vezes, a
Alma, de sóbria,
As trás pra dentro
Com pretensão carmim.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

SONETO INCORRIGÍVEL













Chegarei até você pelo caminho errado,
Terei olhos cansados e sua mão
Percorrerá os sonhos dormidos,
Escondidos em meus cabelos,

No cheiro agudo, sussurrados pelos
Pinheiros outonais,
Tanto fez, tanto faz dias estranhos
E seus olhos castanhos serão o céu

Ao léu, trespassando as cortinas sem graça
Piscando minha vidraça, e então
Terei a chance de, igualzinho, errar

Uma vez mais
E chegarei até você pelo caminho errado
Se não chover amanhã cedo, tarde demais.

FERNANDO PESSOA MARESIA

Não chore, não chore,
O mar é o caminho
Na beira da praia,
E, nos pés
A sede de tantos navios
Bebidos de mar -

A cantiga de tantos marujos
Quanto o mar precisa
Para o sonho aportar.

EPÍLOGO



Sorria na despedida
Menina mal agradecida;
Esqueça que todo choro
É feito só de partida.

Esqueça a minha mentira
E sorria, vadia
É a vida. A minha verdade
Varia. Sorria.

Tomara que um vento forte
Levante sua saia!

CANTIGA















Nega,
Se tens olhos tristes
E piscam por mim
É meu fim,
Não diga!

Negue
Meus olhos nos teus,
Prefiro o adeus
A te morrer.

Nega
A ida quando vai,
Se vai, mesmo assim,
Fica e
De meu peito sai
Sem porta
Só pra doer
E volta.

RESSACA















Tenho mãos sujas
De vento
E quando a aurora principia
Arrebento.

E os pés gastos 
De estrada
Riem chuva à toa
E mais nada.