sábado, 25 de fevereiro de 2017

URUTAU BLUES



Música sonâmbula
Dos angicos pelados
Ecoando sonhos
Às linhas viciadas -

Um dia os homens as chamaram ruas -

Tristeza de moeda
Brilhando mais que lua
Sabendo equação de queda.

PREDICADO



Beijo meu
Um beijo teu
Na minha gente,
Só se flor
For flor de maio
Em abril descrente...

Vou vestir a roupa
Pra ganhar dinheiro
E esperar de passarinhos
Passozinhos
Passageiros.

Esperar de moças
Filhos;
E de estradas
Trilhos;
E de avião
Fumaça;
E de morena
Graça:
Só...

FAÇO DO CÉU



Faço do céu
Uma porca poesia
Desmedida;
Poesia não-vida,
Casa com janelas,
Sacrilégio
Nosso
Que mastigamos
Aragens
E vomitamos
Trens-de-ferro
Em tapetes.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

CONSELHO















E então, moça,
Como estão as estrelas
Que te deixei?
Cuidas bem delas?
Tantos mundos soltos
Precisam de carinho...
Olha lá, não vá dormir
Na vigília -
Teu mundo pode perder-se,
De novo,
No meu céu escuro:
Sou covarde, sou covarde
Ou, no mínimo,
Quando volto pra casa,
Na madrugada,
Só são estrelas que te deixei
A sombra nos meus olhos?

HELEN'S BLUES














Helen is on your best side
Loockin' to the lights
Shinnin' in your hair
In the mirror,
When the heaven
Moves to the side of sadness
In the sea.
The foot in the sand
Of sideral winds,
Makin' your love
To be the beginnin'
And the wave's pray
Of your boat
Coloured by gray.

POESIA PROIBIDA



Se uma flor boba
Caísse dos teus pés
Etéreos,
Feito samba clássico,
Morreria tonto,
Sem querer saber de vida.
Mas flores
Não sonham besteira -
Pelo menos acredito -,
E, acreditando bobeira,
Vivo lúcido
E aflito.

Se uma flor morena
Fosse meu amor e só,
Deixaria teus cheiros
Secretos
Brincarem açucena
Só e louco,
Louco de dar dó
Na serena trama
Amena
De morrer
Na tua pena.

E,
Se morena fosses
Minha,
Por certo já era,
Mas não me convinha.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

LEMINSKI'S HAPPY BIRDDAY

















O samurai bigodudo
Aprendeu dos pardais
A arte dos sonhos curtos
Maiorais.

Pinheiro no Japão
É pinheiro na contramão.

Se acaso não chover
E se deus cooperar
Vai se praguejar de poetas
O chão do Paraná.

Longe, quem sabe,
Partam caravelas
Mas hoje, Leminski,
Pra mim, o vento sopra velas.







SEM-CHÃO



Um prisioneiro
Gostando da gaiola -

Essa não é a covardia
Enroscada, sinuosa,
No meu ombro?

Você morreu!
E como ainda beijo
Tua boca
Sem acostumar-me aos vermes
Passeando minha língua.

A hora que o trem parar
Vão achar teu corpo -
Perdido de todos os amores
E velado por mosquitos!

Menina, a cidade acabou!

Uma lenda assustadora
Tem-me como prêmio
Quando a escrevi
Com vontade de sufocar,
De morte,
O começo de nosso passeio
Entre os moinhos de vento!

Mate-me e tenha mais razões pra cantar
Que a vida!

Tenho dificuldades
Em aprender - talvez te olhando...

- Espelhos.

HAPPY-HOUR



Joguei meus amores ao vento
Em versos delirantes
Com sensibilidade, calmaria e pensamento
Dos cantores de restaurantes.

ENTARDECER



Não são só nuvens
Lógicas;
No estreito do pálido
Ocaso
Uma enseada
Se desenha
E as andorinhas
Não-contentes
Do verão
Beliscam de perto
Nossa mais improvável
Paixão,
Talvez
Um beijo
De cabeça pra baixo,
Talvez -
O triste desejo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

DUELO AO POR-DO-SOL



Poderia até ter me perdido -
A falta de atenção quando
Se tem pedras
Na mão -:
Atirei na hora exata
E hoje ando escondido.

Faço versos, e daí?
Atire agora suas pedras
E pergunte depois.

ANGELUS NOVUS



Alguém levou meu sorriso -
Talvez um passarinho leve,
Voando rápido -:
Que leve!
Outrem o desenhou.

Fico com minha boca
Aprendendo às próprias penas
O grito que me sobrou.

DUAS ESTRELAS



No bojo do pinho uma sede
Desenhando miragens de orvalho,
Colorindo de lua o jardim,
Ansiando aceno de galho.

No bojo do pinho o feitiço,
Em reza mal acabada,
Esperando recair à flor
Um beijo de asa quebrada.

               O cheiro de nuvens
               Esconde a lua
               E perfuma cordas
               De solidão.
               O céu tão perto
               Assim da rua
               Deixa tão alto
               O portão.

               Duas estrelas,
               Só de pirraça,
               Piscam faceiras
               Em tom de punhal profundo,
               Que vem queimar,
               Em febre cachaça,
               Um já torto peito
               De um menestrel vagabundo.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

UM ÚLTIMO FIM












Minha mais precoce morte:
Matar-te pela segunda vez.
Domingo à tarde vai ser triste:
Complexo de cannabis;
Vias interditas;
Medos de espelhos:
Restam-me Assises
Sem Franciscas
E, também
Sombras de outrem
Na sombra
Do não querer acender a luz.
Garganta tapada de cigarro.
Só cigarro?!
- Ar viciado.

THE LAST SONG OF THE JOKER














I'll be back
On the streets
Without my name.
Who knows
The price
Of the fame?

I'm singin' in the game,
The joker divided
For one love and
One hundred thousand
Jokes in the water closed
In the rain's day
With soap on your feet.

You're so sweet
And I meet
The fall.


MOLECAGEM



Versos simplesinhos, simplesinhos,
Crio-os com cuidado
De quem cria passarinhos -
Perna fina, asa quebrada!

Versos simplesinhos, simplesinhos,
Vão-se embora com cuidado
Com que voam passarinhos -
Vida leve, morte nada!

Escrevo como o menino
Que esqueceu a porta da gaiola aberta!

MARIA



Hoje o dia não está pra peixe,
Nem pra poesia.
Um que de Maria
Me embaraça
Onde há fumaça.
Com todos os reveses de praia,
Ir e vir sem ter porque,
Só Maria me desbota,
Me nota e me arrebata.

Hoje dia de Sofia,
De Luzia luz de sol,
De Luana praia
E de mar que fosse
Onde o mar ia.

NÃO TENHO NEM FIM NEM MEIO




Não tenho nem fim nem meio
E hoje pago pra ver.
A lua é irmã
E os amanhãs
Têm lei a favor.
Eu que sou rei
Costuro tripas
Em meio a brumas
De sábados
E cachaças vãs,
Sabendo rumos
Dos prumos
Desatentos dos avós,
Esperando árvores
Noturnas,
Tortas,
Das conversas pagãs.
O amanhã tem suas leis
E a vida se mostra
No contra e no a favor,
Vida e torpor
De carvalhos distantes,
De velhas romarias
Em estradas esquecidas
E assombradas.