sexta-feira, 8 de setembro de 2017

OS CATADORES DE PAPEL



As infinitas linhas da mão,
Noutro tom,
Buscam pássaros
Claros, no sol escuro do asfalto -
Quadro de fumaça e carvão
Apontando a primavera.

Em pouco tempo,
A desnutrida legião bravia,
Em moribundo cambalear,
Esgueirará entre fios de vômito
Exalando flores, de tanto perfume,
Fétidas.

Os olhos embaçados
Entre anos e sujeiras
Aprenderam novas cores
No preto e no branco -
Pernilongos encenando
Beija-flores
Em cinema mudo.
.
Seu Antônio fez uma casa
De embrulho e formulários
Bem perto do redemoinho.
Dentro dela, esconderá mosquitos
Até o céu permear,
Das porcelanas do segundo andar,
O seu chão.

A cabeça,
Sem cheiro nem dentes,
Em pancadas, surdamente,
Tateia a escuridão.
No pó de tanto sucesso
A mais feia cabeça
Talvez seja coração.

Seu Antônio fez uma casa
De embrulho e formulários:
Bem perto da barroca,
Uma casa de papelão!
Verá netos e peixes,
No rio de ureia,
Policiando seu jardim
E comendo seu portão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário