sexta-feira, 29 de setembro de 2017

NARCISO


















Cheiro de tabaco pesado
No tempo, andando solto -
Às vezes círculos, espirais,
Pátrias, paixões...

Cheiro de roça em fim de tarde,
Orgasmo em nervo moleque
Arquejado, na fonte,
Vendo mundo distar céu
No tormento dos pingos
Em plana superfície -
Pátrias, paixões...

Água de moringa cabocla,
Esguias curvas vendavais,
Insinuando, matreira, o beijo
Apaixonando punhais

Mãe, me quebra o espelho!
Pai, me resmungue perdão!
Quero morrer de ficar velho,
Quero chorar meu irmão.

Mas se a estrada é comprida
E o certo da vida o outro lado,
Deem-me de bebida cansada,
Quero o louco erro do mundo
E mais nada,
Quero sonhar na saída.

Gosto de cachaça no sono,
Embalando anjos passados -
Tempo curvo, grisalho, de bengala:
Dois dedos e meio de prosa...
Pátrias, paixões...

Frestas de sol e fumaça
Beijando sonhos jogados
Em franzidas testas.
O bafo do café insiste
Onde a paixão desiste -
Pra lá, Paraná,
Pra cá, sertão
Enganando os olhos...
Pátrias, paixões!

A sede da vida é camelo
E a areia do tempo fachada,
Quero beber de poeira
E gritar de garganta rasgada.

Se o espelho é mentira
E é pesado o perdão,
Mãe, quero outra coberta!
Pai, me traz o violão.

Se a saída é lorota
E a labuta destino
Quero beijar desatino
Com gosto de história rota
E soluçar menino.

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