sexta-feira, 11 de maio de 2018
DESCULPA
Pago tributo ao cheiro
Nesse dia indeciso
Entre as estações.
Sou o paradeiro
Do meu mundo inteiro.
Hoje tudo vem descansar aqui
No meu pensamento
E se o momento
Soa pleno, me desculpe.
Só respiro indeciso
O cheiro do mundo inteiro
Que aqui encontra paradeiro.
17/01/08
CIRCUNAVEGAÇÃO
Homem ao mar
Não há como errar
É só navegar
Em sentido contrário
Ao seu coração
Pois não há sentido
Naquilo que é sentido
Sentimento é vão
Quando um mar escorre
Pelos vãos dos teus dedos
E você já conhece
Todos os quadrantes
Dos teus medos.
05-06-08
sexta-feira, 4 de maio de 2018
DA INFORMAÇÃO
O que seria
Eu não saberia
A não ser que fosse
E eu soubesse
Mas, se me conviesse
A sabedoria
Eu saberia tanto
Quanto não quero
Nem saber
O que seria.
20/03/07
SANTA CEIA
Dedos sofridos,
Curtidos,
Cerzidos
A sol e carvão
Violentam o pão -
Pão estuprado.
Vinho,
Vinho acre,
Vinagre,
Arame farpado
Descendo goela abaixo -
Garganta estuprada
E, ainda,
Fome.
9-12-01
TORMENTA
Me atormenta essa tormenta;
Me fomenta esperança.
Me magoa essa água
Suspensa, que não ata
Nem deságua.
Quando a chuva vier
Quero estar despreparado
E beber mil cálices
Em seu vestido molhado;
Quero te comer como flor
Como se traísse o que sei.
sexta-feira, 27 de abril de 2018
ENCRUSTADO
GÊNESIS
CÍRCULO
Tudo aquilo que o poema
Não pode me trazer.
A brisa lavada da chuva
Acalentando esperanças
Nas mãos calejadas do lavrador;
A terra brotando
Apesar da política agrícola;
O fascínio por terras distantes
E estranhas
Brilhando o olho de criança;
Gente aprendendo
Apesar da política educacional;
O poema brotando em setembro,
Tísico, necessitando cuidados,
Um quase não-poema;
Poesia,
Apesar da política da urgência,
Mas jogue fora
Tudo aquilo que o poema
Não pode me trazer.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
FATHER
I hate to use to live
With this monster
Of Revolt and Pain
Inside of me.
I hate all the things
That don't bring
You back.
GAIOLAS
Asas mofam na gaveta
Fechada da memória
E anjos esperam
A gravidez indesejada,
O fruto de uma vida
Vivida de segunda mão,
O fim do mês,
O sorriso perdido,
Tudo aquilo parido sem escolha
E na cela
A janela cochicha às paredes
O assustador azul do céu
No dia de sol.
NÃO SEI DANÇAR
Desejo,
Beijo abortado
E o corpo etéreo
Flutua,
Pluma roçando
Os pés chumbados.
Até poderia ser tristeza se,
Na cidade passageira,
Tudo não fosse besteira
E delicadeza.
22/04/01
sexta-feira, 13 de abril de 2018
PASSATEMPO
Tempo,
No grego
Cronos -
Um titã descomunal
Devorando filhos.
"O tempo é o nascimento
O crescimento, o envelhecimento
E a morte
De tudo aquilo que existe."
Quando é ruim
Demora pra passar,
Mas quando é bom
Passa rápido.
E=m.c²
Mas o melhor
Vem depois e dobrado.
REMEMBERING
Na tarde lavada pela chuva
A cidade molhada foi espelho
E o poeta andou no céu,
Catou bitucas na calçada
Passou pela fome e se viu,
No alto de seus sapatos surrados
Poeta.
A dor perdida no tempo
Foi a alma arrancada
Da carne,
Um amor dormente
Sob a tosca cicatriz,
Um desatino
Esquecido de porquê.
MINHA CASA
Vou estar nessa casa.
Procure pelo mundo
Os meus rastros,
As coisas esquecidas
E gastas.
A vida veio comigo
Aqui pedir alento.
Cumprimento a alma
De quando saí.
sexta-feira, 6 de abril de 2018
ROCK N' ROLL
O rock n' roll me deu
Esta falta de medo
E estes olhos
De ver de verdade,
Às vezes dádiva,
Às vezes maldição
Mas sempre
A falta que se basta,
A sede em meio à chuva
E a pedra no sapato -
A memória
De pés descalços.
BALANÇO
Tudo se assenta
Nesse cair de tarde.
Velhos amigos repousam
No confortável veludo
De minha mente.
Lá fora é um bater cabeça,
Um dar murro
Em ponta de faca
Mas a lembrança
Acumula amores
E os contará,
Com juros, dividendos
E correção monetária
A especulantes netos.
CÍCLICA
A cada primavera
A poesia
Florindo se esmera.
Vida eterna?! Pra quê?
Senão pra ver
Cem bilhões de entardecer.
CONTO DE FADAS
Só quem percebeu
Na lua olhar
É que sabe
Da noite a alma.
E minha princesa
Tem olho de lua:
Um castanho-amêndoa
Onde meus dias
De labuta
Encontram acalanto.
sexta-feira, 30 de março de 2018
MANOEL DE BARROS
DIA FELIZ
O vermelho da rosa
Machuca a vista
Quando o céu se abre
Após a chuva.
E o cheiro das folhas lavadas?
E essa brisa limpa?
E o... Não.
Felicidade não se escreve.
QUINTAL
quinta-feira, 29 de março de 2018
BRASILEIA
"Somos desterrados em nossa própria terra."
S.B. de Hollanda
I
Nos rincões de meus ancestrais
Eu entro com sangue esquecido.
Latejo dormente em minhas mãos
E a fuga incessante dos caminhos
Vingados há tão pouco -
Tão pouco eterno renascer
E a morte, imprescindível
Barreira sem a qual não há:
Momento útero morno,
Jorro incandescente das estrelas
Em espiral descendente
Onde entro incógnito de mim
E ascendo em piras funerárias -
Intersecção do que não sou
Por mundo demarcado
Mas teia forte latente,
Arcaico mito grego,
Dormência ociosa onde a aranha
Cerca, esfinge, os limites da cidade
E inocente ostento a bandeira
Dos pecados que me cabem.
II
Guitarras vomitam elétricas
Um rock 'n'roll
Distorcido em verde biliar
Perfazendo errônea a rota
Daqui para além-mar.
O olho do sumidouro
E a métrica desesperada
Computa em vão dejetos
Mas condensam-se, incólumes,
Altivos sedimentos das raças -
O olho do sumidouro
Escalavrando, impiedoso,
A medida da loucura,
Polida nos crânios ceifados,
Impondo escambo e trapaça
Aos balcões da feira livre.
Transeuntes vêem vazios
Degenerados artigos do sertão -
O coração do Brasil.
III
Batuques ecoam negros
Na densa noite da alma.
Poetas mestiços, em redes armadas
Nas varandas da casa grande,
Se embalam aos gritos insanos
Dos bastardos filhos de Europa
Mas, no entanto, ainda sugam
Esquálidos seios de mãe África.
Jovem terra árida
De tanto doce inútil,
No hospitaleiro mormaço de teu ventre
O vírus da miséria se aninha
E aguarda a lógica de mercado.
Odes esfarrapadas balançam,
Estranguladas por cordéis,
Ao ritmo dos tambores.
Quem bate? - É o braço vadio
Que um dia tudo ergueu.
Quem bate? - É a virilidade
Abortada e esquecida,
De costas largas e surradas
Que, sozinha, arrasta ferida.
IV
Brancos gigantes desdentados
Estupram famintos o sertão
E contornam em vermelho sangue
O mapa do Brasil -
Verde de ver esmeralda
Na verde miragem da mata:
Mata o de comer,
Comer guloso da morte a vida
E comer mesmo a morte.
Fome insaciável avassalando
Remotas paragens
Em tormentas seminais.
Tifo, varíola, gripe
E canibalismo de alma
Isso, um dia,
Irá vingar poesia,
Tifo, varíola, gripe
E sonambulismo de carne
Isso, quem diria,
Ergue nossa moradia.
V
O ex-presidente, embriagado,
Cavalga o céu da metrópole
Montado em sua vassoura -
Um dia das bruxas
No primeiro de abril.
O bafo quente do asfalto cansa a memória
Quando a Antônio Conselheiro
Cruza a Virgulino Ferreira
Maculando o alvo e destroncado
Arianismo de butique, a preço de banana,
Campeando impune nos erres arrastados
E nos tês dente-linguais:
Emprenhando luz no espírito do porco
O miscigênio pari pureza casta
E os ouvidos, ao pé do rádio,
Num carnavalismo marcial,
Marcham uniformes em todo Dia do Trabalho.
Deus ajuda a quem cedo madruga
Ter ressentimento e rugas.
VI
Mãe, eu não quero levantar cedo
Para construir minha pátria.
Quero, antes, dormir
O sono dos justos,
Quero ver o sol nascer!
Mãe, eu não quero regras tortas
Nesse jogo de trapaça.
Quero, antes, a paz
De cartas na manga
E pronta para a guerra.
Pai, eu não quero mais o sossego
Do teu pouco que me cabe.
Quero, antes, o nada,
Essa página em branco,
Esse caos pra sete dias.
Pai, eu não quero prato feito.
Minha fome já me basta!
Quero, antes, a voz,
O meu vômito rasgado
Nas farpas desse arame.
Há muita sujeira embaixo do tapete
E a imponência arquitetônica
Se levanta
Sobre podres alicerces.
Clássicas plantas se emboloram
Na tórrida umidade tropical
E Oscar franze o cenho.
Encerremos a sujeira no cerrado!
O lado esquerdo dormente,
O derrame,
A apatia no coração do Brasil.
De costas para Europa
Os olhos fechados consentem
O cortejo de milicos
Confirmando estatísticas:
Trezentos e sessenta e cinco
Quartas-feiras de Cinzas
Por um bissexto Carnaval.
VII
Queria uma Ilíada,
Uma Eneida,
Uma Luzíada
Ou uma Odisseia
Mas o bafo quente do asfalto
Cansa a memória
E é tudo muito chato:
Os heróis ganharam esperteza.
VIII
"Através dos anéis de fumaça
Da minha mente,
Na longa e tortuosa estrada
O Encanto entrou na minha alma.
Doravante tudo é calma.
Terei me tornado outro?
A mim mesmo estranho?
De mim mesmo evadido?
Pois soube da Terra
E do Céu constelado
Que lhe era destino
Por um filho ser submetido.
E não mantinha vigilância de cego,
Mas à espreita engolia os filhos.
Um trem irrompe dentro dele,
Silvando.
O tempo salta como uma
Máquina de escrever quebrada.
Com um grito que despedaça
A parede de vidro
Ele fica de asas abertas
Para o sol nascente.
Cancelem minhas reservas para a ressurreição
E mandem minhas credenciais
Para a casa de detenção:
Tenho uns amigos lá dentro.
O distanciamento penetra
Como matéria corante
Naquele que desaparece
E o embebe de suave ardor:
A obra é a máscara mortuária
Da concepção."
sexta-feira, 23 de março de 2018
ENTHEUSIASMUS
A poesia me rodeia:
Um potro sem peia.
Eu não sei o que faço
Cercado de aço.
Tão forte que sou
O poema passou
No descaso da rima:
Minha obra é prima.
CLAUSTRO
Trancado,
Acabado,
Sucumbido à navalha na carne fria
E à companhia indesejada dos mortos-vivos.
Grito mudo de dor na alma,
Cegueira de olhar pra trás,
São tantos os fevereiros iguais.
A maldição da chuva recai sobre a casa,
Sangrando o azul de cinza:
Será que vai chover pra sempre?
O vento de sexta-feira
Uiva histórias de milhas.
Por que o vento de sexta-feira
Tem o cheiro do fim do mundo?
Você já viu o cinza do mundo?
Reflexo perplexo nos olhos de mil anos
De quem pode ouvir o vento?
São tantos os fantasmas que habitam o cárcere da chuva
E eles possuem sorrisos díspares
Das sensações afloradas de carne e alma:
Vultos ordinários ofuscos na chuva calma.
A chuva inunda a alma
De sensações adormecidas,
Sensações não sentidas.
Você sabe como é vazio
Morrer num dia de chuva
Transbordado de nada?
Frio,
Vazio,
Sombrio é a amor de quem vê beleza
Na tristeza da saudade.
Gestos perdidos, de carícia, talvez,
Jogados ao léu, ao frio do sepulcro
Dos mortos que revivem
Nos dias de chuva.
Quase dá pra ver o fim do mundo
Nas grades forjadas
Pelos pingos que riscam vidraças.
Será que vai chover pra sempre?
Eu sei, nossa desgraça é igual
Mas acostumamos ficar cegos
Quando se vê o horizonte:
É que não tenho nada a te mostrar
Por detrás da vidraça embaçada,
Nada além de uma alma atormentada.
O sol brilha pra quem
Atrás da cortina cinzenta?
Não quero ciência,
Meteorologia
Nem complacência:
Me dê apenas uma resposta ingênua
Feito a minha pergunta.
Vou te dizer um segredo
Que vai ser a nossa alma:
Eu gosto de segunda-feira.
Pode rir se quiser
E eu posso até ser louco,
Mas de todas as coisas grandes
O que eu quero é tão pouco.
Será que algum dia
Você irá beijar minha mão molhada
Estendida na vidraça,
Num dia de chuva?
A chuva te escondeu noutro país,
Noutro mundo, não sei,
Mas tão perto daqui.
Será que você ouviu o vento?
Será que te sorriram fantasmas?
Será que você também espera
Um lábio úmido de chuva na vidraça?
Será que vai chover pra sempre?
Fevereiro de 1992
EPIC
For a long, long time ago
I went to the past and slow
I wanna go and go
For a long, long time ago
Odisseus is coming back to Ithaca
Bringing, to the confort of your home,
Your dilacerated soul
Spent in the god's monkeyshine.
I want to kiss the spider web
Surrounding all the hole
In Penelope's wisdom.
Back to the old house
Of the wake up soon,
Of the far away suns
On this side of the wall:
Moss and wagon's wheels
Wagons without wheels.
sexta-feira, 16 de março de 2018
THE EVIL OF THE CENTURY
My world is dark
And I won't to be
My world in other way.
I had money
And I had love,
I had my feet
To go in all the places
And my world is dark.
A greek god
Felling all the pain
To be made
Just like human man.
POESENHO
Quem me dera
Escrevesse
Como quem desenha
E, assim, escrevendo,
Me lesse
Quem lendo visse
Que a minha palavra
Servisse
Alento ao olhar.
Por exemplo: montanha
E a vista passando
Por sobre
Saísse a alma
A voar.
LIÇÃO DE GEOGRAFIA
Tenho vontade de parir mentiras
Já que, poeta do indizível,
Poemas vêm-me estapafúrdios;
Tapas na cara,
Mas não ofereço o outro lado.
Você tem alma fluída
E só não vejo porque não quero;
Fria alma fluída
Permeando cada um dos desvãos
Dessa inesgotável noite.
Estamos esperando o luar
Cumprir sua nefasta missão:
Alma afastada das estepes;
Lobo sobejando o vento.
É claro que estas almas de estepe
São de frialdade inigualável
E as planícies gélidas do teu coração
São batidas de bronze,
Marcando passos
Num chão de cadafalsos.
Poeta, cantei versos no teu passar
Morando num mundo além daqui;
Um mundo sem casa e coração,
Donde era a vida arrancada a sangue frio.
sexta-feira, 9 de março de 2018
SALA DE AULA
Uma criança inteligente
Faz perguntas fúteis
Nas horas inúteis.
Essas coisas de vida
São mesmo assim:
Arrebanhando no encanto
A preguiça do existir.
POSTUMULTO
Talvez um dia
Eu tenha vindo
A ser poeta
Para que a lenha
Não tenha saído
Em vão da floresta.
Talvez um dia
Eu venha a ser
Poeta
Para que o ouvido
Que me escuta
Me discuta
Com mãos de santo
E olhos de puta
De forma correta.
sexta-feira, 2 de março de 2018
DESPERTAR
Arrebentemos
A madrugada
Para que o vento varra,
Pela porta arrombada,
O caminho do sol
E a mentira iluminada
Reflita no arrebol
A verdade descarada.
SUFOCO
Tenho que dizer
Coisas feias,
Blasfemar,
Para que meu peito,
Rarefeito de palavras,
Inspire sem amarras
O turbilhão que me circunda.
CACHORRO CAFÚ (In Memorian)
Veio leve como foi
Teu semblante miudinho
Nem ao menos tempo teve
Em marcar o pensamento
Ficou lá no coração
Qual gaveta sem memória
Uma dor de quando em vez
Fez saudade sem porquê
Nos meus dias de tristeza
Quando por aí voando
Somos só nós dois brincando
Nos campos que nunca fui.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
CARAMETADE
Quem me dera o tempo
Em que saudade era
Não ter você!
O mundo anda longe
De ser perfeito
E eu nem o quero assim,
Mas por que esta metade de mim
Que andava perdida
Me dói tanto
Em mim fundida?
NIETZSCHE
A história paga o pato
Por ser o avesso do fato.
Mas eu sou poeta nato:
Só escrevo enquanto me mato.
A BELEZA QUE RESTOU NUM POEMA ANTIGO
De volta à velha casa
Do levantar cedo,
De sóis distantes
Muito aquém às paredes...
(...)
Líquens e rodas de carroça,
Carroça sem rodas.
(...)
sábado, 17 de fevereiro de 2018
POBRE PREGÃO
DITIRAMBO
FILOLOGIA
Em cada ato de ler
Há um poeta que morre
E um poema que nasce.
Toda poesia que se preza
Tem a singeleza e o ultimato
De um gesto de adeus.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
RAREFAÇÃO
Venham, poemas sem pensar
E me pesem, novamente,
A inconsistência do ar:
Dez mil e quinhentas
Vezes dez
Toneladas de voar
Sufocando meu pesar.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
FUGA Nº 01
CARNAVAL
Podem me dizer o contrário
E me provarem por a+b
Mas, no Carnaval,
Se a vida realmente
Vai para a avenida
E eu vejo o que todo mundo vê,
A tristeza se fantasia
De alegria.
MISSING HOME
As peças soltas
Na eterna brisa
Do tempo.
O jogo de recompor
Começa com a dor
Vestindo outra cor.
Quero ao meu lado
Todo o sangue derramado.
Ainda que eu bendiga
O leito da fadiga.
CRÍTICA LITERÁRIA
Os versos livres
São versos
Bêbados
Que esbarram
Nas
Rimas
Tropeçam no ritmo
Dodecassílabo
(Os tão
Famosos
Alexandrinos?!)
Se
Espatifam
Nas
Quadras
E dormem na sarjeta da página.
LEGADO
Os poemas perambulam
Na calada dessa noite
E apenas ludibriam
A vigília do escrever.
A caneta conta gotas;
Ouve a sede estorricada
Deste beiço que metralha
Só palavras barricadas.
Escrever é uma guerra
Sem o viço da vitória,
Pois o sangue verte a página
Saturando toda história.
A saudade é portuguesa
Pela honra castelhana;
No sossego do mineiro
A blasfêmia italiana
Pulsa firme em cada artéria.
Coagula cada rua
Sangue ruim dessa ibéria,
Que por em si não caber
Inunda o ventre do mundo
Emprenhando amanhecer
E, no gozo mais profundo,
Pari tosca a miséria.
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