sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

LEGADO



Os poemas perambulam
Na calada dessa noite
E apenas ludibriam
A vigília do escrever.

A caneta conta gotas;
Ouve a sede estorricada
Deste beiço que metralha
Só palavras barricadas.

Escrever é uma guerra
Sem o viço da vitória,
Pois o sangue verte a página
Saturando toda história.

A saudade é portuguesa
Pela honra castelhana;
No sossego do mineiro
A blasfêmia italiana

Pulsa firme em cada artéria.
Coagula cada rua
Sangue ruim dessa ibéria,
Que por em si não caber

Inunda o ventre do mundo
Emprenhando amanhecer
E, no gozo mais profundo,
Pari tosca a miséria.

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