sexta-feira, 17 de novembro de 2017

ROTINA























Quando o inverno vier
Minhas mãos se aquecerão
Entre tuas coxas -
Tuas enormes coxas brancas -
E cochilarei entre teus seios
Ouvindo o lúgubre clarim do vento
Anunciando o cair da noite -
Teus enormes seios brancos.

Tu que tens lírio no nome
E não és bela nem feia
Trazes, encalacrado no corpo,
O natural odor das camponesas -
Imemoriais camponesas habitam
Teu enorme corpo branco -,
Sufocando meu desespero
Em sentir o desembestado rolar do mundo.

Teimosamente tentarei o chão
No quente lodaçal do teus charco
E farei cara feia,
Olhos de atravessar parede
Disfarçando de ti o moleque
Embarreado até os cabelos
E, entendendo a brincadeira,
Você se fará de tonta.

Na hora do almoço
Falaremos bestialidades,
De tanto, frágeis e, então,
Perceberei a surrada camisa de flanela
E o cabelo preso em rabo de cavalo -
Mais precisamente, o rabo duma égua,
Encorpada égua num cio eterno
E, com violência, te abraçarei por trás,
Tomado de um nostálgico dó.
Ingenuamente malogrado
Lhe darei o meu melhor.
O resto fica à sorte das longas noites invernais
Coalhadas de fantasmas.
Com meu suor, regarei a frieza da terra e,
Sem alternativa, você parirá,
Na dor dos meus dias, seu amor maior.

                                                                                                     05/01/98

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