sábado, 28 de outubro de 2017

TALKIN' BLUES (Thinkin' About The Pacaembu)


Ouves o barulho lá fora,
Lady Nonsense com Universo
Na cabeça?
Os anjos estão descendo
Os ídolos do pedestal,
Forjando a marteladas
O Titã, mirando o porvir -

Porra! Caralho!
Torcida de bundão!
Quem manda nesta merda
É a torcida do Verdão!
Independente eu sou,
Vou dar porrada, eu vou..." -

O presidente leu o Contrato Social?
Dormiu no sleeping-bag?
All you need is love
Love is all you need.
Go to the west,
The Chile is the best?
Hay que endurecerse
Pero sin perder la ternura
Jamás.

Todos os sixties
Estão clamando autoridade
Às antenas de TV:
O carnaval passa
Na rua principal - 
Sujeira embaixo do tapete,
No fundo do quintal.





HAI-KAI DESESPERADO



A noite é uma cama cinza
Onde a lua sonha
Rosa amarela:

O vento traz
Tristeza na janela.

MISSÃO



Tenho de tirar
Pedras do meu caminho:

Que tombem
Sobre almas escolhidas
A dedo.

MIL OLHOS



Mil olhos
Beliscam os meus
De soslaio,
Às vezes,
Um balaio de gatas,
Outras,
Mulatas
E eu sempre acorde perdido
Encontro a porta
E saio.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

POEMA ROUBADO DE UM DELÍRIO MATUTINO DO ANDARILHO ZÉ LOUCO



Ela chega perto de mim
Ri de mim
Depois escorrega de mim
Eu fico sem graça
Ela ri de mim

Ela ri de mim
Aí as outras não vão mais
Chegar perto de mim
Eu fico sem graça...

ITINERÁRIO



Caminho cheira a dinheiro -
Cheiro de mãos misturadas
No jeito em que se misturam
Sortes atadas à estrada.

DESAMOR



Meus estilhaços
Brincando valsa
Com a chuva.
Trago ébrio
O efeito do vento
Calculado,
Atirando presentes aos pombos:
O gosto da carne
Irrompe monstruoso
Buscando efeito
Na manhã.
Desenhar sem lógica
Pode ser a porta
À cabeça rota.
Somente o asfalto
Brinda a festa
Em ângulos desbarates
E o menestrel
Anseia frestas:
Desespero
No coração pelado
Chamando meninas
Em beijos excomungados,
Até que ratos
Pintem o espelho
Aos plácidos galhos:
Desenhar sem lógica
Talvez seja perdão
De pecado.

sábado, 21 de outubro de 2017

BLUES DO SUBDESENVOLVIMENTO # 05



Quando você perde a vergonha de sua tontice
E a leva,
De banho tomado,
Perfumada e
Cheia de penduricalhos
Pro passeio público,

Será que ela não é, ainda,
Sua tontice?

BLUES DO SUBDESENVOLVIMENTO # 04 (Do Engajamento)



Preciso tomar providências
Em nome daqueles
Que não têm condições
De tomar providências.

Isso sempre será preciso
Tanto quanto
Preciso disso.

PARTITURA



As flores estão murchas
Sobre a mesa.
Olho a janela
E vejo o dia
Chegando atrasado -

Quem irá ensinar a música
Aos violões de amanhã?

ROSAS TEMPORÃS



Tenho uma faca na mão
E não é de hoje;
Amores feito tripas esparramadas
Coram minha vista
De vermelho -

As rosas floriram
Fora da primavera:
Os assassinos, algum dia,
Passam pelo jardim.

SALA DE AULA



Aprendam rir minha dor
Filhos da terra
Estranha e minha;
Já passei por jardins,
Caminhos e ventos
Assoviando a melodia
De uns cabelos
Mentirosamente meus.
Hoje, julgo estrada
Minha verdade
E maldade seus atalhos,
Alhos e bugalhos
No meio da tempestade
Dançando o lixo
No ar vermelho,
Insistindo o sangue
Nesta cansada e velha
Desfocada retina.

REDUNDÂNCIA



Meu coração
É do estradão esburacado,
Coração empoeirado
Batendo em solavanco,
Tanto
Que sinto manco.

ALQUIMISTA



Se você aparecesse
Agora
Deixaria, desconsertado,
Minha alma lá fora
Numa chance que devo
A toda a tristeza
Guardada, em relevo,
Nas margens dos meus olhos.

Há um rincão
Nas íngremes escarpas
Que escondem
O meu coração.

Se você aparecesse
Agora,
Desejaria meu sangue
Suco de amora
Corando docemente
Meu disfarçado susto
Displicente.

ANIMISTA



Talvez, em algum perdido lugar,
Eu saiba dançar
A gravidez das pedras,
A sinuosidade malvada
Das árvores,
O sono das flores
Nos botões;

Talvez a primeira manhã
De primavera
Seja loira
E o céu caia vermelho,
Em chuva de rosa.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ESTRELA D'ALVA



- Poesia
Onde esteve
Durante estes 
Anos todos
Em que escrevi?

Não tenho mais 
Sangue
De criança 
Extremada:

Se, 
De ti,
A vida cobra pouco,
Já de mim
Não cobra nada.

Poesia,
Não me acordaste
Como lhe pedi,
Pra ver a última estrela,
Quando dormi?

- Tu não tens mais o ouvido
De criança extremada:
Bem que te viu o bem-te-vi
Na janela ensolarada.

UM AMIGO PASSA



Um amigo passa
E a gente custa
A acreditar.
Um amigo passa
No meio de fumaças
Vilãs;
No seio de vidas
Divididas
Em novas flores,
Novos gostos,
Novas cores.

Um amigo passa
Por já não haver
Mais
Caminhos
E a gente escolhe
O sozinho
De ter amigos
Que passam -

A lei máxima do amor:
Gente que cuida da gente
Com calor -

Rimas e desalentos
Cuspo fora
Com a flor.

UM SIM E UM NÃO



Um sim e um não.
Alguém de nós dois
Esqueceu uma violeta na janela.
Talvez no vapor
A essência busque novas ondas,
Trombe terceiros cuspes,
Terceiros sons,
Terceiras folhas;
Perca-se no um
De mim numa areia de praia
E da areia se esvaindo em nossa mão -
Toda história -;
Não seja jamais de outros
Que não minha e tua -
Nossos olhos.
Choros sufocados doem
Feito falta de fim:
Abortar crianças lindas
E ainda querer outras:
Loucos.

CATAVENTOS


Mais uma vez
Quero ter amigos sem pudor,
E não deixar ir embora
Uma certa saudade.
Num sol distante,
Pra lá das florestas
De murchas cidades
A beleza de minha gente,
Junto a algo de pó
E de rugas,
Posta em estantes esquecidas,
Será,
Exatamente beleza,
Como hoje a é.

Crianças queimando o dia
No quintal,
E esquecendo
O prenhe da memória,
Até que réguas,
Tréguas,
Astrolábios,
Caligrafias
E belezas artefatas
Despertem o sonho:

No meio do capim,
Um cavalo de pau perdido
Dos reinos dormidos.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

BANDEIRA BLUES


















Vocês não vêem 
Que estou precisando de ajuda?
Tragam-me o vômito
Do fim
Das noites perdidas;
Tragam-me a sede
De beber água com as mãos;
Meu coração peleja
Num inferno sem tamanho
A dor da vida na morte.
Cortem minha garganta!
Falarei meu coração tacanho,
Se tiver sorte,
Sem voz.

Poesia mal agradecida,
És-me maior
Que a vida!

FALSO SONETO EM TOM DE PRÓSPERO ANO NOVO



Enterrei uma flor daninha
Lá no fundo do quintal:
Não quero paixão mesquinha
Entre eu e o temporal.

Venham ver o que ficou
Em um copo tão amargo.
Em cacos, a formiga embriagou
Restos de vinho Campo Largo.

Reality is the best fantasy of all
Escrito na camisa azul:
Não cheiro mais As Flores Do Mal.

Andorinhas vêm do sul?
Comendo etcétera e tal
A caneta entorna blues.

FIM DE CADERNO



De alma, escrevo pouco.
Escrevo mais de não-saber.
Já nem sei mais se sou louco
De ver filho crescer.

BLUES DO SUBDESENVOLVIMENTO # 02



Para um pássaro que nasceu
Na gaiola,
A liberdade
Só existe atrás das
Grades.