O poeta tapa o sol com a peneira
E guarda um pouco de chuva
No guarda-chuva
Para a manhã que estiver
Triste;
Depois chora escondido
Um choro que aprendeu
Sozinho -
Que tonto, o poeta! -
Todo mundo acredita
Na previsão do tempo.
A chuva lavou as paixões
Dependuradas
Nas paredes do velho quarto.
Lembro-me, agora,
De um amor
Esquecido, no mundo -
A aragem da terra lavada
Convidando à loucura
Da estrada:
Junto flores no embornal
E chegarei na estrela d'alva
Colorindo-me a manhã
De acordar-te o teu quintal.
Moro no fim do mundo,
Lá onde o vento leva toda história,
No bolso do casaco-sombra-triste
Um fio solto,
Tua memória.
Dentro da chuva rala
Esperando desenhos de sol,
Engolindo a poeira dos sonhos
Dançando o mastro do lindo.
Cantando um novo jeito
Em tomar os pés da música
E partir o coração de fada
Da manhã,
Até que o mesmo peito
Seja mais trago esquecido
E a navalha abrirá romãs
No vento cheiro da noite
Amanhecendo
E alvorando flamboiãs.
Deixa-me confortar o pensamento
Na imensa placidez dos teus seios;
Deixa-me cheirar roça de algodão à tarde
E sonhar, perdida nas nuvens,
A musica que os ventos trazem dos desertos:
Na sombra dos teus altos seios brancos
Meu mundo tem conserto.
Estabeleço estratagemas
Nas lágrimas das musguentas
Telhas, tangentes
No velho chapéu
Do paiol.
De súbito,
Um vento trará, no gosto,
Este cheiro
Da dor perdida a um ano,
Uma vida,
Uma paixão atrás -
A dorandorinha
Na janela azul
Que a nuvem abrir ao céu,
Ainda quero comigo:
Mesmo sabendo do sol.