Desatento
Eu tento prender
A beleza que passa
Roçando leve meu querer
Com carinhos de fumaça.
Pressentido desatino
O senso me traz à razão.
Ora, senso, perdeste o tino?!
Não é todo querer
Prisão?
Uma saudadezinha de vez em quando
É bom pra ficar triste,
Assim como um dia frio
De vez em sempre.
Eu quero a solidão e o desespero
De ter o mundo inteiro nas mãos
Sem ter nada o que fazer.
Se a felicidade existe
Hoje eu a tenho
Agora mesmo.
Não a busco mais
Em inacessíveis plagas;
Só a tenho
Tão agora mesmo
Que até tenho pudores
Em guardá-la no papel.
Talvez eu e meu pai
Voltando leves da labuta
E morrendo um pouco,
Cada um em seu compasso,
Mas o momento me pesa tanto
E não sei,
Pois quando a morte, A indesejada das gentes chegar,
É isto que, em minha frente,
Irá bailar.
Eu hoje sei me expressão,
Mas na pressa de saber
A inspiração me ficou no ar,
E na pressa em me expressar,
Levando em conta a expressão popular,
Meu verso não presta,
Ou ao que presta meu verso
A inspiração me vem preversa
E meu verso se expressa.
O céu promete chuva
E os pássaros entendem
E as árvores
E as pedras
E até aqueles
Que já viveram
O suficiente
Para aprender
Entendem.
É assim:
Este dia veste
A mesma roupa que vestia
Um dia
Um dia
Que passou
E nesse dia
Chovia.